terça-feira, outubro 07, 2014

Olhos azuis

Eu percebi que aqueles olhos azuis me encaravam quando resolvi dar uma olhada nos participantes da palestra. Achei estranho, um cara tão gato me olhando. Prossegui achando que estava vendo coisas. Mas não. Ele estava me olhando mesmo e eu comecei a retribuir discretamente. Mas já sentia que alguma coisa estava acontecendo. Quando sorri e ele me retribuiu tive a certeza: estava rolando um clima.

Eu estava na organização da palestra. No final fiquei arrumando a sala e ele conversando com os palestrantes. Quando estava saindo ele me puxou e sem mais nem menos pediu para eu segurar a sua blusa. Não entendi bem, mas peguei a blusa e fui esperar lá fora.

Passado alguns minutos ele chegou e agradeceu. Meu Deus, que cara gato! Vi que assim como eu, ele usava um anel de tucun. Perguntei e ele me disse que lutava pela causa dos oprimidos. Me apaixonei naquela hora. Bonito e da luta. Eu queria pra mim!

No caminho até o ônibus descobrimos amigos, movimentos e interesses em comum. Tínhamos que tomar uma cerveja naquela noite de qualquer jeito.

Já no ônibus, eu com uma amiga e ele com alguns amigos fomos conversando e nos equilibrando em pé. Combinamos de nos encontrar mais tarde. Eu não acreditei, mas eu e minha amiga fomos.

No bar sentamos em uma mesa redonda. Ele ao meu lado. Foram conversas engraçadas, passamos de pesquisas acadêmicas, para política, religião e viagens. Foi muito agradável. Tomamos cachaça, eu já estava alegre (mais que o normal).

Em baixo da mesa, de repente senti uma mão se aproximar da minha. Não conseguia acreditar. Fingi que nada acontecia, até que na segunda investida eu aguarei a mão dele ficamos ali de mãos dadas escondidas. Meu coração batia a mil e eu comecei a rir de qualquer coisa que falavam na mesa.

Levantei-me, pedi licença e fui ao banheiro. Meio cambaleando e rindo sozinha, olhei pra trás e aqueles olhos azuis estavam lá. Quase cai. Ele era um gato. Sem nenhum comentário ele me puxou para um canto mais reservado do bar e me beijou. Tive impressão de ter flutuado.

Começamos a rir e se beijar ao mesmo tempo. Não sei porque, mas não queríamos que o pessoal da mesa nos visse juntos. Trocamos alguns beijos e voltamos pra mesa, como se nada tivesse acontecido.

Passada uma meia hora, levantei e fui ao banheiro de novo. Chegando lá, percebi que ele me seguia. Riamos muito e beijávamos muito. Repetimos esse ritual mais umas 2 vezes, até que chegou a hora de ir. No fim todos da mesa já haviam percebido.

Saímos de mãos dadas e muito animados. Então ele me contou que estava indo embora em algumas horas, tinha passagem de avião marcada. Isso na verdade não me importava, estava tão feliz naquele momento que não poderia pensar no depois. Caminhamos assim até seu hotel. Todos se despediram e chegou a nossa vez.

Prometemos escrever um artigo acadêmico juntos e participar de algum evento em comum. Talvez isso realmente pudesse acontecer, Rio Grande do Sul não era tão longe do Paraná. Enchemo-nos de esperança e seguimos nossa vida. Na certeza de que aqueles olhos azuis ainda iriam cruzar com os meus, segui sonhando e suspirando apaixonada pela noite maravilhosa que tivemos.

quarta-feira, outubro 01, 2014

Você me encontrou na rua

Fechei os olhos e tentei lembrar se realmente aquilo tudo havia me acontecido. Foi tão intenso, tão bonito, tão inesperado. Parecia filme.

Eu vinha caminhando pela rua, quando você me parou e perguntou se por acaso eu conhecia algum bar legal para tomar uma cerveja naquela região. Eu disse que sim e era logo alí descendo a rua. Com a mão indiquei o caminho. Você agradeceu, fez que ia seguir mas voltou e me perguntou se eu topava tomar uma cerveja.

Eu nunca fui de negar oportunidades. Era uma terça a noite, estava cansada, trabalhara o dia todo, seria uma boa beber cerveja e trocar uma ideia com alguém legal. Aceitei na hora. Você sorriu e seguimos para o bar. No caminho perguntei seu nome e se era de costume convidar pessoas desconhecidas na rua para uma cerveja. Era tudo novo, para mim e para você.

No bar foram cerca de duas horas de intensa conversa. Pela primeira vez o que realmente me interessou era aproveitar aquele momento e conhecer melhor aquele cara maluco que compatilhava um chop comigo. Não queria saber se iamos nos ver novamente, se você estava mentindo, se você tinha facebook ou se era estudioso. Me importava sua essência, seu ser.

Você tinha histórias divertidas, fantásticas. Tinha dicas de música, filmes, canetas, vinhos e softwares livres. Num bloquinho você ia anotando tudo para que eu pesquisasse melhor depois. Eu também dei as minhas sugestões. Foi uma troca.

Rimos muito. Loucos por novas experiências e amizades. Tinhamos alma comum. Tua delicadeza me encantava, sua juventude me inspirava. Você me empolgou. 

Saindo do bar caminhamos até minha casa. No caminho, mais risos e histórias mirabolantes, dos dois. Você pegou em meu braço e seguimos caminhando de braços dados. Estava frio.

Em frente de casa em um impulso você me puxou e me beijou. Eu retribui porque era o que eu queria naquele momento. Ficamos ali sentindo um ao outro, tão perto, tão quente. Você tinha mãos suaves e uma barba deliciosa. Me apaixonei naquele instante.

Mais alguns beijos e amassos, entrei em casa, mas antes deixei meu telefone. Em minha cama, ainda em êxtase, meu coração batia forte. Eu ria sozinha. Era tão bom se sentir nas nuvens. Parecia sonho.

De repente me dei conta. Não havia pegado nenhum contato seu. Não sabia seu nome completo e nenhuma informação precisa que pudesse me ajudar em uma pesquisa na internet. Nunca mais saberia de ti. A menos que você me ligasse. 

Isso foi real? Você existiu mesmo? Se não existiu, como eu poderia me sentir assim, tão irradiante e completa? Tão apaixonada... Eu me lembro do seu rosto, do seu cheiro e da sua barba. Mas não sei como te encontrar. Não temos pessoas amigos em comum, atividades em comum. Somente várias páginas de um bloquinho com a sua letra e várias dicas para eu pesquisar. 

Eu parei, sorri e me acalmei. Tinhamos almas parecidas, se tudo aquilo realmente aconteceu, iriamos nos encontrar de qualquer maneira. No tempo certo você vai aparecer e vamos rir ainda mais da nossa história.